IL POVERELLO

sábado, 25 de dezembro de 2010

O SEGREDO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS

Tristão de Athayde


Num mundo que se cristalizava em lutas, em abusos de toda espécie, em indolências e ceticismo, Francisco não vinha trazer-nos nada de inédito, como originalidade de pensamento, como fórmula de restauração, como remédio aos males do tempo.


São acordes seus biógrafos em dizer que os seus discursos nada tinham de original. Procurando os seus discípulos reproduzi-los, sentiam sempre a falta de qualquer coisa... mas que era tudo. Nesse mundo, em que a fama das universidades começava a espalhar-se, e Bolonha, ali perto, já irradiava o seu saber de juristas e teólogos, não vinha discutir teologia ou combater infiéis.



Vinha apenas, no meio das lutas em que se debatiam as cidades e as famílias, em meio da grande decadência de costumes e dos abusos dos grandes contra os pequenos, vinha penas trazer essa dádiva simplíssima: uma vida humana a serviço dos homens. Vinha viver, no meio dos homens, como se viera de um mundo superior a eles.


Quando todos se debatiam entre mil e um laços que os prendiam a toda sorte de pequenos senhores na terra, veio esse filho fugido de casa dos pais, para entregar-se ao Pai supremo, sem nome e sem instrução, mostrar que a suprema felicidade estava em sacudir o peso de todos esses pequenos barões terrenos, para se submeter a um só Príncipe invisível. No meio de uma vida em que se perdera a memória das coisas simples, veio mostrar o sabor de todas as verdadeiras essências imortais, a luz, o fogo, a água, o ar, o som, a palavra. No meio de uma sociedade áspera no ganho, veio mostrar a delícia de não possuir.


No meio do furar de todas as violências, veio mostrar o milagre da paz e da fraternidade. No meio de uma era complicada, racionadora, cheia de hierarquias e preconceitos, veio mostrar a originalidade das coisas simples. Contra os raciocínios intermináveis, mostrou a eloqüência das soluções intuitivas. Contra as rígidas hierarquias, a igualdade no bem e na pureza da alma.


Contra os preconceitos, a coragem de agir desassombradamente, por uma causa mais alta que todos os mesquinhos interesses terrenos. Esse, talvez, o maior segredo de São Francisco de Assis. Onde outros deram ou dariam o seu saber, a sua astúcia, a sua coragem, ele deu apenas isso: o seu coração. Esse isso revolucionou a História.


Publicado originalmente no Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 4 de outubro de 1981.
Extraído de: PICCOLO, Frei Agostinho Salvador, OFM. Perfil do educador franciscano. p. 89-91. Bragança: EDUSF, 1998.


Rio, 25/12/2010.
Emmanuel Avelino.

El mínimo y dulce Francisco de Asis

O NATAL ESPÍRITO DO CRISTO



                        O que comemoramos na data natalina é a chagada do Espírito de Jesus Cristo para a humanidade. Ele foi enviado exatamente para apascentar os demais Espíritos que aqui já habitavam e que desconheciam o verdadeiro sentido do Amor do Pai que os criou, nosso Pai Deus. Emmanuel(Mateus I, 23),  
doravante conhecido como Jesus de Nazareth, o Cristo Cósmico, encarnou com a missão de nos tornar melhores, esclarecidos e livres para reverenciar, adorar e submetermos à vontade e o Amor  de Deus.

                        Francisco de Assis, o sereno, o admirável e o apascentador das ovelhas de Jesus, veio para continuar o seu apostolado em nome de Jesus, de quem fora Apostolo e ao seu lado e ao lado de Maria Mãe de Jesus, o adorou e serviu como o Apostolo João, O Evangelista.

                        Por isso devemos conhecer o Natal de Francisco de Assis, o Natal Franciscano, criador do primeiro presépio para a adoração do menino Jesus em seu primeiro dia de existência quando encarnado esteve na terra há mais de dois mil anos atrás. Daqui para frente vamos nos valer da obra (Francisco Cantor da paz e da alegria, Autor Deodato Ferreira Leite, Editora Paulinas, 12ª edição 2004), para melhor esclarecer como se deu a criação do primeiro presépio na terra, criado por Francisco de Assis no ano de 1223, na localidade  de Gréccio.

                        “No tempo de Francisco, do sereno e admirável homem de Assis, celebrava-se com muita alegria, o nascimento de Jesus Cristo. Festa caracteristicamente popular e simples, uma das poucas que não eram privilégio exclusivo dos senhores e potentados, fazia aflorar também nos espíritos humildes.

                        Nos longínquos dias do passado, Francisco de modo muito significativo e comovente, estabeleceu um costume de impressionante beleza. Precisemos o ano: 1223. Então, festejou ele o nascimento de Jesus de um modo como nunca se havia feito.

                        Conta-se que o santo viajava de Roma para a Úmbria, pouco antes das festas da natividade, e, ao passar por Gréccio, disse repentinamente a João Velita, religioso da Ordem Terceira: “Irmão, se me quiseres ajudar, celebraremos este ano o mais belo Natal que jamais se viu”.

                        “No bosque, perto do nosso convento, existe uma gruta entre os rochedos; farás aí um estábulo e porás nele feno. É preciso que haja também um boi e um burro, justamente com em Belém. Quero, ao menos uma vez, festejar a vinda do Filho de Deus à terra e ver com os meus próprios olhos quanto ele quis ser pobre e miserável, quando nasceu por amor de nós”.

                        Realmente, por mais que se pense na pobreza do nascimento de Jesus, dela não se poderá ter uma idéia perfeita, a não ser que se contemple demoradamente um verdadeiro presépio – estrebaria, habitação de animais irracionais.

                        Na gruta, perto do bosque, tudo estava arranjado de tal maneira, que o quadro de Belém repetiu-se, comovente, ali, na sua pureza e simplicidade. Sobre um punhado de palha, repousava o Divino Infante. O povo da cidade e dos lugares vizinhos compareceu em peso à encantadora festa. Os frades dos conventos do vale de Riete, com tochas acesas, sonorizavam os ares com cânticos solenes e festivos.  Chorando de alegria, Francisco orou também de joelhos diante do presépio. À meia-noite, foi rezada a missa por cima do presépio, que servia de altar, a fim de que o Menino Jesus, sob as formas de pão e vinho, ali estivesse presente em pessoa, como o tinha estado no estábulo de Belém. Essa noite, de memorável beleza foi realmente extraordinária, pois o Menino Celeste retornou à terra para alegria de todos.

                        É bem verdade que a comemoração do Natal, depois da inesquecível e bela restauração feita por Francisco, tornou-se a mais expressiva, como que tocada de maior santidade. Agora, os cristãos podem, diante do presépio, meditar demoradamente a respeito do mistério da encarnação do Verbo. Mistério esse profundo e admirável! Deus que se faz homem! Como ele não poderia sofrer nem morrer, o Verbo tomou a natureza humana e habitou entre nós  para, na sua humanidade, viver pobrezinho e morrer na cruz. Incompreensível é em verdade o amor de Deus!

                        Francisco desejava que, por ocasião do Natal, mais do que nos outros dias, fossem ouvidas na terra palavras eloqüentes e fervorosas no tocante à vida de Deus entre os homens e que mais do que nunca, se exaltasse a figura de Jesus, abismo de todo o bem verdadeiro, amor de todos os amores. Ciência escondida aos grandes do mundo e revelada apenas aos pequeninos. O excelso poeta santo – “el mínimo y dulce Francisco de Asis” – dizia que possuir Jesus é possuir ao mesmo tempo as coisas passadas, presentes e futuras, pois nele e por ele, enfim, existem e existirão os séculos”.


Rio de Janeiro, 25/12/2010, às 00;01h

Emmanuel Avelino.