A SECA MALVADA!
ANÁLISE
ESCATOLÓGICA, ESPIRITUAL E LITERÁRIA
ANÁLISE
ESPIRITUAL
Para
nos livrarmos do sofrimento, é preciso compreender o que se passa antes do
sofrimento. Na verdade, não há nada que surja sem causas nem condições. Importa
reconhecer as causas que aumentam o sofrimento ou o diminuem. Faz parte da
análise do espírito, preliminar indispensável à prática espiritual.
O espírito é sujeito às pressões das
circunstâncias, flutua com elas e reage ao impacto das sensações. O progresso
material e o desenvolvimento do nível de vida melhoram o conforto e a saúde,
mas não conduzem a uma transformação do espírito, a única susceptível de
proporcionar uma paz duradoura. A felicidade profunda, ao contrário do que acontece
com as satisfações passageiras, é de natureza espiritual.
Depende da felicidade do outro e
baseia-se no amor e na ternura. Seria errado pensar que ser feliz consiste em
se apropriar do melhor em detrimento dos outros. A falta de altruísmo, que
causa perturbações e desordens familiares, provoca a solidão. Procuremos não
ser excessivamente voltados para o exterior…
Este
é um estudo que sempre desejei realizar sobre poesias, letras musicais, músicas
de letras e poesias, textos literários, discursos e obras literárias em geral.
Tarefa para doutos que acanhadamente nos afoitamos ingressar nela. Mas, como
dizem que Deus escreve certo por linhas tortas, vamos deitar a nossa linha apesar de toda torta e rezar para ver se o nosso bom Deus a desentorta.
Bem,
vamos iniciar com uma letra e uma música de nome “Seca Malvada” de autoria do
compositor Lalo Prado e Cecílio Nena, música que suponho ser de Zezé Di Camargo
e Luciano.
Esta
composição musical a considero como sendo um hino do retirante. O retirante é
aquele ser humano sofrido e abatido pelas condições inóspitas do tempo - tempo
aqui entendido como as condições climáticas e às intempéries a que está
submetido esse indivíduo, tais como a seca, a sequidão da terra, o calor
abrasante da terra, o chão cru duro e agressivo que maltrata os pés e calejam o
corpo que se torna ressecado e casposo em virtude dessa agressão calorífica do
sol marvado!
O tempo, as condições climáticas do
sertão nunca foi um tempo bom. Ou falta chuva, e, tudo torra e resseca, vira
torrão em virtude da brasa do calor solar, ou chove demais em pé d’água que
transtorna tudo, rebenta paredes de açudes e barragens e barreiros não suportam
o peso de tanta água em conseqüência de estarem com suas paredes ressecadas, e,
a água arromba tudo, leva todos de roldão e logo mais estará tudo seco outra
vez. Ó seca malvada!
Mas, vamos conhecer a letra
dessa Canção musical:
“A CHUVA QUE DEMORA
TENHO QUE IR EMBORA
QUANDO ABRIR ESTA CARTA
VOCÊ VAI SABER AMOR, NÃO
CHORA
EU JÁ ESTOU NA ESTRADA
JÁ VOU LONGE DE CASA
TUDO QUE EU LEVO É A CORAGEM
A DOR DA SAUDADE, SECA
MALVADA
EU SÓ QUERIA A RIQUEZA
DE TER SOBRE A MESA O POUCO
QUE PLANTEI
COMO COLHER NA CIDADE A DIGNIDADE
QUE EU TANTO SONHEI...
A SOLIDÃO É A SECA NO CHÃO
QUE SÓ FAZ OS MEUS OLHOS
CHOVER
MEU CORAÇÃO DE LUAR DE SERTÃO
QUER UM DIA VOLTAR PRA VOCE”.
Bem,
para que alguém possa entender e interpretar o sentimento de quem elaborou a
poesia é preciso ter conhecimento do que seja a dor e o sofrimento de um
retirante, de um sertanejo, de um caboclo nascido e vivenciado o torrão de
terras secas e miseráveis, essa dor que em uma poesia nossa a denominamos de “a dor da inclemência”.
Dói demais a espera da
chuva para um sertanejo, dói a ponto de fazê-lo chorar e ficar triste com pena
da miséria e da lamúria dos miseráveis que também choram e lamentam. Tem que
ver para crer, meus irmãos! Para esse irmão nascido nesses torrões natais, pode
demorar tudo, até a própria morte, para qual ele nem estar ligando, agora,
santo Deus mande a chuva, por misericórdia! Mande a chuva...
Sim,
pois se chover dá de tudo e fartura tem de porção. Seja, é condição
indispensável que caia a gota d’água. A demora que significa a seca que é falta
d’água representa a morte de tudo. Morrem todas as esperanças, especialmente
aquelas de se viver ao lado e perto de quem se gosta e ama.
E de quem mais se gosta e
adora, podem perguntar a um sertanejo, é do seu torrão natal.
Por que a terra estando
fértil e refrescada com as preciosas gotas d’água, de resto tudo se arranja,
tudo melhora. Se a terra do sertão estiver molhada e verdejante é sinal para o
sertanejo de que ele jamais terá a necessidade de se tornará um retirante. Por isso o clamor a rogar a vinda
providencial da chuva.
Acaso
a chuva demore tem-se que ir embora. É condição imprescindível que a chuva
chegue, venha e molhe com todas as suas propriedades o solo sofrido e
ressecado, o tornando fértil e aproveitável para que se fique com os seus entes
queridos e amados. Se tal fato não se der o sertanejo com o peito sangrando e
dolorido tem que se retirar em busca de vida para dar vida a tudo o que ama e
gosta.
A
Quem não conhece essa realidade pode parecer que se estar fugindo da
responsabilidade, mas não é o que verdadeiramente ocorre. O que se dar é que, é
necessário se fugir da desgraça e da miséria que implacavelmente assola a
todos, indistintamente, como que a dizer salve-se quem puder, ou aquele que
tiver peito e coragem dê o seu jeito, então morrerá.
E se foge... Ás vezes, muitas vezes,
às escondidas para que ninguém veja que se esta fugindo da desgraça e da
miséria, por que se for visto no intento dessa fuga, bate um desânimo e uma
tristeza que impede de se concretizar o desejo. Se amolece a coragem, bate o
choro e se acovarda e fica pra morrer no torrão ressequido das plagas
sertanejas, que são milhões ali abrigados, santo deus!!
Mas,
o desgarramento se dar com muito dor e sofrimento. Só Deus o sabe o quanto se
vê compungida a alma desse ser aviltado com a desventura da sorte, por ter
nascido sertanejo. Como se sente desprezado pelas contingências da vida, ovelha
desgarrada que terá que dar notícias e dizer para os que ficaram que foi
obrigado a deserdar, deixando-os para trás para não deixá-los morrer.
Quando abrir esta carta, amor você
vai saber, mas pelo amor de Deus não chora! Podemos afirmar categoricamente que
haverá choros e que todos chorarão simultaneamente, os que estão lendo a carta e aquele que a remeteu, a sintonia e
afinidades espirituais são tão intensas
e verdadeiras que todos chorarão como se estivessem juntos e presentes àquele
ato de amor divino. Deus assim o quis...
Vejam
meus irmãos que coisa maravilhosa. Olhem o que o desgraçado pede e quase
implorando àqueles a quem abandonou e deixou num primeiro momento à própria
sorte, pede... Não chora!
Compreenda o meu ato de desvario a
minha fuga pertinaz, audaciosa, deixando para trás os que me deram a própria
vida, ou que me mantiveram por algum tempo vivendo até este momento, que se
sente ferido de morte por ter deixado para trás os seus e que pode até nunca
mais vê-los, mas tudo com a melhor das boas intenções, pois quer um dia voltar
pra vocês!!
Esperem por mim, se tudo der certo
vou voltar para o meu lugar, sou sertanejo, amo o sertão, por favor, não chorem
isso me enfraquece e eu preciso de muita coragem e força para vencer e
mantê-los vivos e voltar para reencontrá-los.
Amor, não chora!...
Rio, 31/12/2010.
Emmanuel Avelino.
Rio, 31/12/2010.
Emmanuel Avelino.
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