IL POVERELLO

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

UM CONTO SEM PONTO



          Acontece que durante 22 anos a convivência nossa fora dentro dos trâmites vivenciais, normais sem qualquer percalço de idéias e relacionamento
          Por ocasião do desenrolar desse percurso em nossas vidas, tivemos todos os tipos de entendimentos e como não somos anormais, tivemos também vários desentendimentos
          Nada disso foi além do trivial, do esperado do aceito pelo comportamento racional das pessoas
          Vividos foram os dias os fatos as coisas da vida onde nos sentíamos bem, muito bem, bem mesmo
          Viajávamos mundo a fora, mas em especial no nosso torrão brasillis que tanto conhecemos e amamos
          Já estava com mais de cinco anos na idade e pilotávamos juntos, era o meu co-piloto, alertava, opinava, mandava, até isso tudo era para nós maravilhoso, uma felicidade só o que nos ligava como irmãos nos mesmos sonhos, na mesma harmonia de vida e amor
          Foram anos, foram décadas de muita satisfação e congraçamento fraterno, como se estivéssemos rememorando outras vidas, outros passados deixados incompletos e que nos empenhávamos por completá-los a qualquer custo
          Tudo se apresentava redondo, perfeito e acabado, como se não faltasse nada para que nos sentíssemos realizados em nossos projetos de vida e em especial daquele ser que por força da natureza nos haveria de suceder em tudo o que até então fizéramos, conquistáramos e até onde chegáramos Era uma satisfação só, total e imorredoura que nos invadia a alma, o ser o espírito
          Nada poderia nos representar, ou seja não haviam palavras que pudessem traduzir o quanto nos sentíamos realizados, até então, com o que havíamos idealizado para o nosso futuro pessoal e dos nossos descendentes
          As palavras são pobres, muito pobres, nessas ocasiões, para traduzir os nossos sentimentos e as nossas emoções quando se trata daqueles que nos são muito caros e que moram no mais profundo do nosso coração e da nossa alma
          Vejam, nada paga, ou melhor não existe preço que recompense um olhar puro e amável de um ser seu filho, inoculado na sua alma pela janela da própria que são seus olhos.
          Nada, nada, é mais transcendente e maravilhoso do que esse olhar ingênuo, despretensioso, puro – porque próximo de Deus – que nos deixa em êxtase completo, ao ponto de nos deixar abobalhado diante de tamanha gracitude
          Pois, como disse não existem palavras, por isto a criamos
          Nada é mais sonoro que ouvir transitar nos corredores da alma, do que aquele grito que nem fere o tímpano, do seu filho chamando P A I
          Ainda hoje durmo e desperto, sonho e desejo, me sinto realizado e feliz quando escuto falar, ao chegar e fechar aporta, P A I
          Ah, se todos soubessem o que isso importa, o quanto é confortador, reparador, o que isso significa para as nossas vidas, ah, se todos soubessem
          Mas, os fatos continuam o seu desenrolar ante os dias de nossas vidas, só para nos provar – ou provocar, é verdade – que estamos pronto e preparados para os embates da própria vida
          Somos pegos e surpreendidos constantemente com situações inusitadas, intrigantes, inaceitáveis, mas somos sem sombra de dúvidas chamados a provar a nossa coerência, a nossa paciência o nosso amor à causa da paternidade
          Da criança imatura e ingênua passamos para criança esperta, desenvolta, olhar perscrutativo que descobre e questiona tudo, inclusive nos colocar em cheque e se alevanta cheia de moral dizendo que também sabe das coisas, e até nos incomoda no bom sentido
          Achamos bonito, ele estar mostrando que não é nenhum tolo, encara situações às vezes impróprias para a sua idade, mas sabemos que no fundo no fundo, estão contando com a nossa ajudinha, quando a coisa pegar, verdade
          Patrocinamos desde os primeiros passos, continuamos apostando nos passos seguintes e estamos dispostos a não arredar os pés em qualquer situação e a qualquer tempo, em se tratando do nosso filho
          Sempre acreditamos que este ser especial que demos oportunidade de habitar conosco nesta existência, deva ser algo muito especial e respeitado o qual tratamos como se fosse um biscuit que ao mais leve toque pode ser quebrado, horrível essa idéia esse pensamento, mas constantemente conduzimos as coisas para este lado da vida dos seres que protegemos e amamos
          Eles nem sempre, a partir de uma certa idade, estão de acordo com esses pontos de vista e com as nossas opiniões
          Aí, já lá em pouca idade, segunda infância, começa o desconjuntamento, a desunião dos conceitos, nossos e deles que começam a ter idéias próprias e a peitar postos de decisão das coisas, do que se quer e do que não se quer, e vai até o ponto de se chegar a negociação necessária à sobrevivência da harmonia entre os seres humanos
          Continuamos nos relacionando, divertindo, viajando, brincando, ralando e tudo o mais que a nossa convivência amiga permite
          Somos parceiros e topamos qualquer parada para mostrarmos um ao outro que, se depender de nós a coisa funciona, ainda que seja na marra
          Passamos algumas noites mal dormidas, um olhando para o outro que arde de febre, choraminga, cochila e dorme mas já estar despertando novamente a qualquer tossida ou pigarro que o cansaço provoque pela vigília ao pé daquele moleque que é a nossa vida
          Quem dirá que não estaríamos dispostos a suportar tudo novamente para ter aquele serzinho indene mas nosso nos provocando a ter que provar a nossa resistência em situações as mais diferentes possíveis para assistir um sorriso seu nos agraciando a sua vontade consentida
          Podemos dizer que tudo isso era feito em nome da nossa convivência e do nosso apreço e apego um pelo outro
          Parece até que continuo ouvindo aquela frase que um falava para o outro: papai chegou, o filhinho melhorou, sempre que a criança estava acometida, abatida e prostrada por uma virose que a jogava deitada sobre um leito gemendo de dor
          Foram vários e vários anos convividos na nossa intimidade, um acalentando o outro, apesar da diferença de idade que nos separava e nos marcava os dias existenciais
          Nós observávamos isso, num olhar reflexivo, pelo canto dos olhos, percebíamos a satisfação que cada um em si sentia por agradar e fazer feliz o outro, que de alma cheia sorria mas deixava extravasar e cair gotas felizes de lágrimas que lavava o nosso peito amigo, a nossa cumplicidade fraterna, paterna, divina
          Podemos dizer que não há palavras para traduzir tais momentos que só a nossa alma tem o condão de conhecer as palavras que possam traduzir o que um pai sente pelo seu filho quando o ama, respeita e adora, como sempre falamos nos momentos mais sublimes para o nosso entezinho querido: papai te adora, filhinho
          Cresceu o pupilo e agora se sente um homenzinho, sai mas pede para sair, que vai com os amigos ao aniversario do amigo, que vai chegar mais tarde, até as dez estará em casa
          Acompanhamos ansiosos, inquietos, com insônia, despertamos por tudo que provoque pequeno barulho, chegou, será que é ele, o elevador parou no andar espera ouvir seus passos, a porta bateu, saiu, era o vizinho que chegou, já passam das onze, ainda não é ele
          Oh! Quantas foram as vezes que pudemos nos encontrar passando por situações idênticas, noites mal dormidas, ruminadas esperando o fruto do nosso sonho, às vezes em sonho mesmo o víamos chamando e tocando a campanhinha, levantávamos correndo e na porta olhávamos no visor e ninguém, era mesmo um sonho de ansiedade e de espera angustiante
          Mas ele chegava e às vezes extrapolava o limite estabelecido para o combinado, nós não tínhamos coragem para nos impor e ralhar, brigar no bom sentido de que o combinado é o combinado, e a situação vai se avolumando e toma conta de suas palavras que já não conseguem sair do peito e o moleque esperto percebe e toma conta da situação e faz o que bem entende e você se perde na suas conjecturas, arranja mil e uma maneiras de cobrar satisfação, bola muitas maneiras de entabular uma conversa, mas se perde e fracassa sempre que o filho desobedece suas orientações e você fracassa e se sentem impotente para cobrar o que ele não tem a menor cerimônia de dizer que: você não pode me proibir de viver a minha vida Então só nos resta nos ensimesmar, colocar a cabeça num buraco sem fim chorar e rezar para que os nossos protetores espirituais olhem e intercedam por todos
          Continuamos fazendo o papel de amigos, sim, até porque nada disso tira a amizade e o amor que um pai devota a um filho seu que apesar de não o respeitar no combinado não deixará de ser aquele ente especial em sua vida
          Ele continua sendo o nosso homemzinho aquele que agora não mais tem tempo para sair ou viajar com você, tem amigos e amiguinhas que o absorvem e tira todo o sem tempo de convivência com a família da qual é fruto e que desta não tem como se desgarrar, ainda que a abandone
          Felizmente, até hoje isso não aconteceu de vermos o nosso filho fora do nosso lar Embora saibamos que não tem faltado incentivos por parte de suas pretendentes em ausentá-lo do nosso convívio, mas tudo isso são os ossos do ofício e nós nos supomos preparados para suportar essa ausência, muito embora haveremos de cobra-lhes uma visita diária em nossa casa ou em nossas contas telefônicas
          Mas, a vida tem verdades e dar voltas que a própria razão desconhece e às vezes nem sabe como explicar  Era do computador, telefone celular, internet, meios fáceis de comunicação, caixa de correspondência eletrônica, contatos com quem sabe Deus se processam e um dia lá está a coisa mudando de cor
          Relacionamentos de toda ordem é o que caracteriza a afirmação do dominador, conquistador, do matador de prezas fáceis, logo ali na esquina da rua, qualquer rua e os fatos se embaralham e o ser se complica entre a paixão desenfreada pela primeira que o fez chegar ao êxtase e aquela que o quer a qualquer preço, ainda que tenha que apelar para os meios nefastos, grosseiros e violentos, pois que foi a própria vida desses seres atrasados e maldosos quem os conduziu na senda do mal e da perdição
           Onde foi parar o nosso biscuit a nossa jóia rara a nossa alma santa, do nosso queridinho amigo que em sofrendo as agruras dos tempos bíblicos, mergulha num fosso de revolta e de contestação, contra tudo e contra todos, por não entender até hoje que o combinado é o combinado, e que esse trato deve ser respeitado, pois que precede muitas vezes às nossas próprias vidas atuais
          E a sua formação, pois é a sua formação que julgávamos primorosa, procedente de escola monástica, religiosa, tida e obtida em mosteiro de alta magnificência escolástica, era tudo o que qualquer um poderia sonhar para a formação do ser do futuro, visto que contava e conta, pois, com um formidável acervo cultural, cientifico, humano e religioso, dos melhores e mais invejáveis para qualquer cidadão do mundo, haja vista que o mesmo adquiriu bagagem suficiente para se expressar e manifestar em pelo menos quatro idiomas mundiais, ainda pode e dever despertar para si mesmo, para a realidade que o assola, mas que o consola e redime ante a sua bagagem espiritual, da qual é dotado por merecimento e por missão, é só despertar e mostrar a que veio
          Nós hoje sofremos ante a inépcia que domina a situação, mas comungamos com a idéia de que não devemos nos abater diante de situações muitas vezes provocadas apenas para nos testar ante os nossos valores morais e espirituais, devemos, como diz o ditado popular, “levantar, sacudi a poeira e dar volta por cima”
          Há um ditado Árabe que diz “Resistir é Vencer”
          E, nós resistiremos até a última gota de sangue e suor da qual possamos dispor, como ser humano, porém como ser espiritual, por sermos imortais, nunca deixaremos de estar vivenciando esse existir enaltecedor das nossas existências e essências divinas, o que nos torna inseparáveis e fraternos ante a nossa precedência espiritual, pela vontade e pelo amor de DEUS

Natal, 26/02/2007

Emmanuel Avelino
http://www.femap.net/
femap@femap.net

Nenhum comentário:

Postar um comentário