A PAZ DO MUNDO COMEÇA EM MIM...

Minha amada Irmã Hamanda, feliz por seguires as palavras daquele que diz: "a paz do mundo começa em mim". Que esta tua paz que tiveste diante desse momento indesejado mas compreensível, seja aquela da qual o mundo tanto necessita e que começa também no teu coração!
Em tudo dai graças!
Era dia 11 de novembro, 22h00, estávamos eu, Luiz e
seus pais diante de sua casa, no Rio de Janeiro, despedindo-nos. Eis que dois
homens armados nos surpreendem e valendo-se da superioridade que aquelas armas
lhes conferiam, roubaram o carro e tudo que nele estava contido. Por muito
pouco, não levaram Luiz conduzindo o veículo. Também por pouco não me levaram,
pois já estava dentro do carro quando o assalto foi anunciado para Luiz, que
ainda estava fora. Me deixaram sair com minha bolsa, mas levaram minha mala.
Acabava de chegar de viagem. Fiquei apenas com a roupa do corpo.
Triste foi o momento em que nós, os quatros, ficamos
desolados na calçada, vendo aqueles homens sumir pela rua levando o carro.
Nos momentos finais, ainda ouvi Luiz dizer-lhes: “Vão
com Deus!”.
Quando chegamos em casa, depois das providências
normais, pensamos: “Estamos vivos!”. Quantas e quantas vezes ouvimos nos
noticiários que bandidos assaltam e matam de forma banal; muitas vezes sem
qualquer resistência, já de posse dos bens da vítima, e ainda assim assassinam,
num ato de total desprezo pela vida humana.
“Em tudo dai graças!”. Pela forma como tudo aconteceu,
muitas graças! De tanto ouvir esta passagem bíblica, busquei o texto inteiro.
Primeira Carta do Apóstolo Paulo aos Tessalonicenses,
mais especificamente em seu capítulo 5, versículo 18. Lá está: “Em tudo dai
graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”.
Seria a vontade de Deus que fossemos surpreendidos
pela violência urbana? Como entender que Deus permita a subtração das coisas
obtidas com o esforço do meu trabalho mediante a ameaça de uma arma?
É certo que não há fardo que não possamos carregar. Se
Jesus carregou a cruz e suportou as dores do Calvário, foi porque Deus sabia
com perfeição que Ele poderia carregar o fardo e naquilo tudo havia um
grandioso propósito. Se Paulo, Pedro, Estevão e tantos outros morreram em nome
do Cristo, pregando e difundindo a Verdade trazida pelo Filho de Deus, por
meios desumanos e cruéis, para ilusoriamente fazer imperar o poderio romano,
assim o quis Deus porque todos eles suportariam tais dores, e nisso também
existiam grandes propósitos.
Com nós outros, despidos de uma relevância tal, não é
diferente. Nada acontece em nossas vidas que não podemos suportar, como
igualmente nada é por acaso.
Suportamos a perda de nossos bens. Nos abraçamos em
casa, agradecendo a Deus pela graça de ter nos protegido.
A mesma passagem que prega “Em tudo dái graças”,
também diz: “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da
salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo” (versículo 9).
Jesus é puro amor, tolerância extrema, a feição mais
perfeita da paz, o norte e o exemplo para todos. Intuitivamente, ao invés de
lastimar e dirigir palavras de ira e ódio para aqueles que nos fizeram o mal,
optamos pela prece, primeiro em agradecimento, pela proteção de nossas vidas e
integridades físicas, depois por aqueles homens, para que abandonem o crime e
se convertam a um caminho de luz. Estávamos cumprindo de certo modo as palavras
de Paulo, quando diz: “Rogamo-vos, também, irmãos, que admoesteis os
desordeiros, consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais
pacientes para com todos. Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui
sempre o bem...” (versículos 14-15).
Se não podíamos diretamente dizer-lhes “irmão, segue
um caminho do bem”, dirigimo-lhes a nossa oração, pedindo a Deus que deles
cuidasse e acolhesse, retirando-os daquela vida sombria. Se perdemos nossas
coisas, muito mais perdem eles, enquanto alimentam a ilusão de que estão
ganhando.
Em tempos difíceis como os atuais, quando a violência
e a crueldade dominam o mundo, “Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. […]
Examinai tudo. Retende o bem. Abstende-vos de toda a aparência do mal”
(versículos 16-17; 21-22).
O mal daquele episódio não ficou em nós. Nos dias
seguintes, estávamos sorridentes, vivendo o melhor que a vida nos propicia pela
graça de Deus, da forma mais simples, porque o melhor reside no mais profundo
de nosso ser.
Em toda oração, voltávamos a agradecer pela proteção e
luz recebidas naquele instante. “Em tudo demos graças!”.
Jamais nos foi dito que não teríamos adversidades. Mas
é fato que todas que nos vierem, poderemos suportar, e o fardo se tornará ainda
mais leve se entendermos que Deus se faz presente em nossas vidas, sempre!
Inclusive nos momentos de prova.
Certa vez um irmão me disse que a constante oração e a
prática da caridade nos rendiam uma espécie de proteção contra as coisas ruins
do mundo. Deus, atento aos nossos atos, pouparia-nos das intempéries,
fazendo-nos de certo modo invisíveis ao mal. Por isso, em tempos difíceis,
“Orai sem cessar”. Exercitai sempre o amor ao próximo, o que buscamos fazer
quando rogamos a Deus por aqueles que
haviam nos ameaçado e roubado. Oração e Caridade estabelecem uma sinergia
perfeita com o Criador.
E qual fora o propósito então? Não ouso dizer com
certeza. A verdade de tudo é domínio de Deus.
Extraio as minhas lições pessoais: Estávamos na
companhia dos anjos de Deus e estivemos protegidos em todos as horas. Se nos
levaram os bens materiais, que grande mal há nisso? Permanecemos intactos e
saudáveis para trabalhar e recompor a perda. De que valem as riquezas sem um
pensamento voltado para o Alto.
Fica a certeza de que as coisas da Terra, aquelas que
o dinheiro adquire, à Terra pertence. Ao espírito pertencem o amor a Deus, a
fé, a confiança em Jesus, seu filho amado, a caridade e a paciência, e todos os
sentimentos e virtudes que nos colocam em sintonia com o Pai.
O agradecimento jamais sairá de minha mente e verbo:
Muito Obrigada Pai do Céu, por ter nos livrado de um mal maior!
Também persiste a prece: Senhor, iluminai os
pensamentos daqueles caminham longe de Ti, dos teus ensinamentos. Faz-se
presente em suas vidas e conceda-lhes a graça da conversão, fazendo-os
verdadeiramente felizes, assim como somos, pela magnífica experiência de tê-lo
conosco. Amém!
Hamanda Avelino, em
Natal, 28 de novembro de 2013.
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